sábado, 29 de novembro de 2014

Eu escolhi Viver !

É complicado quando se tem um diagnóstico de doença seja ela qual for, principalmente se for na sua infância ou juventude, com a doença se perde, é claro, um pouco da saúde, e nestas fases da vive não estamos acostumados com outra realidade se não a de energia sobrando, pressa de viver, e tudo , mas tudo mesmo, muito intenso. Minha adolescência não foi diferente, tudo pra mim era intenso, e tudo era muito. Tinha muitos amigos, muitos amores , muita fome, muitas festas, eu vivia tudo intensamente, me entregava aos amigos, muitas risadas, baladas, adorava encher a casa, adorava gente muita gente na minha volta, e como era muito alegre sempre fazia amigos onde chegava, não demorando muito a liderar o grupo. O diagnóstico de uma doença grave , crônica e com tratamento delicado, podendo gerar graves complicações a médio e longo prazo me faria escolher entre dois caminhos: Iniciar uma vida disciplinada, com horários severos para medicação alimentação balanceada e em horários fixos e certos, exames periódicos e muitos e diferentes especialistas um para cada área de atuação da doença. Ou fazer uma escolha e com ela uma renúncia a de viver intensamente minha adolescência e arcar com as conseqüências. É claro que existem outras maneiras de levar uma vida bacana e não negligenciar nenhum tratamento, mas estes foram os únicos caminhos que enxerguei. Num primeiro momento escolhi assumir e tratar a doença, tratei só a doença , não tratei de mim, fui a todos os médicos , fiz todos os exames , as perspectivas eram péssimas , as consultas assustadoras os exames muito ruins, as injeções não me incomodavam mas as hipoglicemias eram insuportáveis, as consultas foram aumentando , o oftalmo avisava da cegueira, o nefro da hemodiálise, o cardiologista dos infartos, o neuro dos possíveis AVC’s. Comecei a adoecer meu espírito alegre e me deu vontade de voltar a ser o que eu era, a voltar a amar a vida, as pessoas achavam que largar o tratamento era escolher a morte, mas eu queria voltar a viver, a sorrir, a dançar,a comer também é claro, então a intensidade voltou, fui muito feliz mas escolhi negar a doença e comecei minha queda de braço com quem nunca perde, brigar com a doença é causa perdida, ela suga nossas forças e nos leva pro tatame. Não fiz nada que todo jovem jamais deve ser privado de viver, só que não soube nunca o meio termo ou o limite das coisas eu adorava dançar, balada barzinho , risada , conversa fora, trabalhar de virada, nesta idade o corpo não cansa, nunca fui dada a vícios, sempre tive respeito pelas drogas e do que elas causam, nunca usei cocaína nem ácidos, êxtase ou estas balinhas, bebida sempre fui fraca então fui responsável por algumas bebedeiras, fumei de idiota , só a noite na balada por que achava que o clima pedia, depois chegava em casa e tomava banho odiando aquele cheiro horrível. Maconha tinha a vibe de natural só deu sono e fome, parou por ali, meu rivotril fazia um efeito melhor e jamais me traria problemas pois era lícito, nunca fiz coisas que poderiam envergonhar ou causar problemas para minha família, nem sou adepta de que o que é proibido é mais gostoso, acho que o gostoso é o que te faz bem e não me faz bem magoar os outros. Na minha cabeça não tinha como ser doente e viver a vida nem eu achava que uma boa noite de sono ao invés de risadas com a gurias seria parte do tratamento. Depois veio o segundo diagnóstico o Lupus em meio a complicações já instaladas do diabetes, bom aí vem cansaço, dor nas juntas, desmaios, nada de sol,dias com dor, tratamento complicado, mais uma vez a renúncia à vida me chama novamente, continuo assim, uns dias ruins outros nem tanto, mas ainda tinha os amigos, as festas, os parques a praia, talvez, continuei vivendo antes de me jogar outra vez na doença. Não por muito tempo vieram as lesões, perdi quase todo cabelo, abandonei a praia, o clube, cordicóides destruíam a glicose, fomos para quimioterapia, não contei pra ninguém, era ruim , enjôo, e melhora nos sintomas, na qualidade de vida não tive nenhuma. Mais uma vez escolhi viver, encerrei as sessões, voltei para o reuquinol e sem largar a medicação de base, resolvi amar minha vida com as limitações mas sem o contexto doentio das consultas exames e especialistas. Agora tenho que escolher mais uma vez se escolho outra vez viver.