quarta-feira, 21 de abril de 2010

Meu primeiro anjo


Meu primeiro anjo veio com o primeiro casamento, já com 23 anos resolvi sair de casa, pois não aguentava mais todo mundo dizendo o que devia ou não fazer e as preocupações dos meus pobres pais com a filha "doente" achei que saberia cuidar melhor de mim sozinha e resolvi juntar os trapinhos.
Com todo stress da mudança e vida nova, má alimentação, cuidados com a casa, as contas, descompensei de novo, tudo outra vez, emagreci, tive várias infecções e no segundo mês de casa nova veio a notícia, estava grávida de novo, mais uma vez o misto de sensações tomou conta de mim e a mesma impressão de fracasso me invadiu e chorei de pavor, mas eu estava muito feliz.
Começou então a maratona de exames, ecografias, e consultas para garantir que meu bebe fosse saudável e que minha saúde fosse estabilizada até o final da gestação.
Os meses foram passando e eu cada vez mais encantada com cada fase dessa nova vida, até que no exame de analise morfológica perto do quinto mês meu mundo caiu, meu amor tinha todos os problemas que um bebe poderia suportar... Tinha microcefalia, não tinha o ,rádio do bracinho direito , não tinha a válvula mitral, enfim , o pesadelo me rondava novamente e pensei ter que passar por tudo de novo o médico aconselhou-me interromper a gravidez. Mas quem é que decide sobre a vida? Com certeza não era eu, eu ficaria com meu filho fosse ele como fosse eu estaria com ele até quando suportasse viver.
E foi assim por todos os meses seguintes, segui com minha gestação, sofri demais com as hipoglicemias, tinha convulsões e sofria com o ganho de peso, e embora soubesse que meu filho não poderia sobreviver eu o amava e não me importava com sua aparência e problemas, eu só queria vê-lo vivo por alguns minutos para poder beijá-lo uma só vez. E foi assim que ocorreu, meu Matheus nasceu no dia 16 de abril de 2002 e seu diagnóstico foi de anencefalia, deram-lhe 3 horas de vida quando nasceu e quando vi seu rosto que para maioria não era uma imagem muito agradável pra mim era o bebe mais iluminado do mundo e assim ele conquistou a todos, médicos, enfermeiras e a família que o recebeu com todo amor do mundo, estavam todos dispostos a dar o apoio necessário para aquela passagem difícil, ele iluminava o berçário era o que diziam todos. O tempo de vida foi de 3 horas depois de três dias e assim prorrogado até que completou 10 dias de vida.
No dia 26 de abril de 2002 cheguei à UTI infantil ele estava com minha mãe e ela muito preocupada com sua falta de ar, no princípio, assinei um termo de que meu filho tivesse uma parada respiratória ou cardíaca não o reanimaríamos, pois já era seu limite, mas o conforto seria mantido durante todo tempo, então quando cheguei à saturação dele stava baixa e a enfermeira não queria aumentar o oxigênio, bom eu não achei aquilo confortável e aumentei um pouco a Dra me chamou e proibiu de fazer aquilo por causa do termo, liguei para sua pediatra e tratamos de fazer assim sempre que baixasse a saturação ate que ficasse em sete o oxigênio, depois disso seria pior para ele e já seria sinal de que seu limite chegava ao fim. Foi o que fiz até que meu amor chegou ao seu limite de forças.
Foi quando pedi que tirassem todas as sondas e a roupa para deitá-lo no meu peito na minha pele fiquei segurando-o e pedindo que não tivesse medo que ainda estaria com ele, pedi que fosse em paz, que ficaríamos bem e felizes pelo tempo que desfrutamos da sua presença. Ele ficou lá e deu só um suspiro, foi à experiência mais incrível da minha vida, tive outro depois, mas até aquele momento não sabia o que era amar de verdade. Queria talvez ir com ele ou no lugar dele, qualquer coisa que o fizesse tranquilo e sereno para não mais sofrer.
Por isso não quis interromper minha gestação, por isso não me arrependo de nada. Mas teria me cuidado mais para talvez estar com meu Matheus até hoje comigo, deixo aqui a advertência a todas as jovens diabéticas que planejem bem suas gestações e que não tenham medo de engravidar por que somos capazes de gerar filhos lindos e saudáveis se acatarmos todas as orientações por mais exageradas que possam parecer no momento.
Meu segundo anjo eu conto depois...

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